Amazônia: de quem ela é mesmo? Valdo Barcelos-Prof. e escritor-UFSM

Amazônia: de quem ela é mesmo?

Valdo Barcelos-Prof. e escritor-UFSM

            Existem debates que parece hibernarem. De repente são “acordados” e voltam à cena com grande força. O tema da Amazônia me parece ser um desses temas. Para não voltar muito no tempo, basta ver os noticiários da década de 70 e 80 do século passado para verificarmos que estava ocorrendo um intenso debate sobre a quem realmente pertencia ou deveria pertencer a Amazônia. Na época alguns setores até denominavam o espaço amazônico como “inferno verde”. Estão lembrados?

            Pois nos últimos dias e semanas o debate sobre a Amazônia voltou à pauta nacional e internacional. E voltou com grande intensidade. Alguns discursos – ou mesmo alguns chavões – voltaram a serem repetidos 40 anos depois. Para tanto, é lançada mão de verdadeiras bobagens, impropriedades científicas quando não de bizarrices. Por exemplo: todos querem se apresentar como os verdadeiros e legítimos donos da Amazônia; que a Amazônia é o pulmão do mundo; que a Amazônia vai salvar o planeta; que a Amazônia é patrimônio de toda a terra, etc. Esquecem-se os postulantes a proprietários da Amazônia de um detalhe bem simples. Para aqueles que andam procurando os donos da Amazônia dou uma simples sugestão. Não os procurem nem em Brasília nem em Paris ou no famigerado G7. Os legítimos proprietários da Amazônia estão onde sempre estiveram: na Amazônia. Vale lembrar a esses atuais defensores da Amazônia, de duvidosa sinceridade, que os povos nativos da Amazônia nunca usaram dessa prerrogativa de serem proprietários dela. Por um simples e especial motivo: a ideia de propriedade nunca existiu entre os povos originários. A floresta Amazônica para eles é o mundo em que vivem, e, portanto, é um lugar sagrado. Não pode ser propriedade de ninguém. Esses povos originários estão lá a não menos de 20 mil anos. Quem são eles? São os Povos da Floresta. Um pouco mais de estudo e de bom senso ajudaria bastante nesse momento em que o já foi visto como “inferno verde” está pegando fogo.