Dissertação - Vinícius Ramos Puccinelli

Educação ambiental e o participativismo autoritário da preservação: o caso da estação ecológica do Taim e a ecologização dos moradores da vila da Capilha.

Autor: Vinícius Ramos Puccinelli (Currículo Lattes)

Resumo

As políticas de preservação materializadas através da criação e estabelecimento de unidades de conservação alastram uma arena de conflitos e tensões no território brasileiro. A presente pesquisa teve como foco o caso dos conflitos e tensões que envolvem a Estação Ecológica do Taim (ESEC Taim, 1986), unidade de conservação de proteção integral localizada no extremo sul do Brasil entre as cidades de Rio Grande e Santa Vitória do Palmar, no Estado do Rio Grande do Sul. A história da ESEC Taim, narrada pelos interlocutores desta pesquisa, está marcada a) pela violência simbólica de órgãos ambientais contra as práticas históricas e cotidianas dos moradores locais, muitos deles pescadores artesanais, e b) por alianças/pactos com os empresários do agronegócio da região que financiam, através da compensação ambiental, projetos de preservação. Para a construção do problema e realização da pesquisa, foram utilizadas ferramentas como observações exploratórias, imersão em campo, diário de campo e entrevistas abertas e semiestruturadas através de um roteiro de pesquisa. A imersão, feita na Vila da Capilha, possibilitou ver que existe uma culpabilização dos moradores locais quanto aos problemas da preservação. Observamos também, através de materiais consultados, que diante dos conflitos e tensões envolvendo populações locais o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBIO, órgão gestor de áreas protegidas) vem investindo em medidas que ampliem a participação das populações através da mediação dos conflitos. Deste modo, construímos a hipótese de que o ICMBIO juntamente com o terceiro setor, desconsiderando o cenário de desigualdade e injustiça ambiental da região e destinando projetos socioambientais e de Educação Ambiental pautados em "mudanças de valores culturais" aos atingidos pelas políticas de preservação, produzem um processo de ecologização nos moradores do TAIM. Ao longo do trabalho explicitamos como estão estabelecidas as distintas formas sociais de apropriação do território e como são afetadas, assimetricamente, pela ESEC e seus "projetos socioambientais". A partir das falas e da observação participante no cotidiano dos moradores da Capilha, arguiremos que tais projetos "participativistas" (incluindo os de Educação Ambiental) apesar de diferentes na forma autoritária outrora assumida em abordagens dos órgãos gestores, pouco diferem em seu conteúdo. Por fim, constatamos que a maioria dos participantes da pesquisa não se manifestam contrários à ESEC, mas reconhecem o tratamento desigual que eles recebem em comparação ao tratamento dado aos empresários.

TEXTO COMPLETO

Palavras-chave: Educação ambientalAdministração participativaÁreas de conservaçãoEstação ecológica