Tese - Lorena Santos da Silva

Tensionando a ciência e os saberes subalternizados sob o viés ambiental : o caso da escola cívico-militar no extremo sul do Brasil

Autor: Lorena Santos da Silva (Currículo Lattes)

Resumo

A presente pesquisa que apresento tem como objetivo compreender os conflitos produzidos entre os saberes subalternizados através da relação com a natureza social do meio ambiente como entorno da comunidade, da escola e da universidade para problematizar as relações entre os sujeitos, que se desdobra em quatro objetivos específicos: a) Conhecer como estes sujeitos subalternizados veem, falam, pensam o saber, a ciência, a escola, a Universidade e o ambiente natural e social em que vivem; b) Entender as relações que se estabelecem na escola entre seus saberes, os saberes universitários e os comunitários em seu contexto; c) Mapear como os sujeitos subalternizados e seus saberes são abordados em produções científicas voltadas à educação ambiental; d) Problematizar o saber acadêmico abstrato a partir dos saberes subalternizados, sem idealizá-los, considerando-os como legítimo ponto de partida a saberes substantivos na superação teórica e prática de seus problemas de uma Universidade realmente útil às classes populares. Justifica-se esse estudo por sua contribuição para o reconhecimento dos saberes subalternizados produzidos nas relações cotidianas de uma comunidade escolar, como também, para mostrar a potência desses saberes através das experiências docente vividas no interior de uma escola cívico-militar. Para tanto, optou-se por utilizar duas frentes metodológicas: estudo de caso e bibliográfica. Esta pesquisa de abordagem qualitativa foi desenvolvida em uma escola pública localizada no extremo sul do Brasil que em dezembro de 2021 aderiu ao Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (PECIM). Durante o período de implantação do programa atuei, nessa escola, como professora e pesquisadora. Participaram desse estudo professores da instituição e familiares que foram estudantes em seu período escolar. Para a coleta de dados foi utilizado plano de entrevista semiestruturado, observação participante com registro em diário de campo. Após compreender os saberes produzidos pelos sujeitos, retornei à análise da teses e dissertações defendidas do Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental/PPGEA da Universidade Federal do Rio Grande/FURG e artigos científicos publicados, nos últimos cinco anos, em periódicos que tem em seu foco e escopo as temáticas socioambientais. Considerou-se como principais articuladores teóricos os conceitos de saberes sujeitados, ciência e verdade de Michel Foucault e sujeitos subalternos de Gayatri Spivak como base para abordar os saberes subalternizados. Desse modo, observou-se que a ciência se apresenta de forma abstrata para os/as professores/as e familiares dessa escola, uma vez que apesar da existência de fissuras, a maioria das produções científicas da educação ambiental mapeadas reforçam a subalternização, o que reflete no fortalecimento de propostas de cunho neoliberal, como o PECIM, que se empenham na construção de sujeitos capazes de se autorregularem sob o prisma do empreendedorismo de si. Portanto, essa pesquisa permitiu concluir que se faz necessário uma maior aproximação do campo da educação ambiental a uma ordem epistemológica mais ouvinte e menos propositiva, assim como, a imprescindibilidade de ampliar o conjunto de pesquisas in loco, uma vez que, ainda estamos longe de superar o militarismo na educação.

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Palavras-chave: CiênciaSubalternizadosEscola cívico-militarEducação ambiental