Tese - Bárbara Hees Garre

Dispositivo da Educação Ambiental: modos de constituir-se sujeito na revista Veja

Autor: Bárbara Hees Garre (Currículo Lattes)

Resumo

O presente trabalho trata-se de uma tese de doutorado, produzida no Programa de Pós-Graduação em Educação Ambiental da Universidade Federal do Rio Grande/FURG, na linha de pesquisa de Fundamentos da Educação Ambiental. O objetivo desta pesquisa é analisar de que modo a revista Veja coloca em funcionamento e potencializa o dispositivo da Educação Ambiental no século XXI. Para realizar tal análise tomou-se como suporte os estudos de Michel Foucault e fez-se algumas aproximações com Gilles Deleuze. O trabalho analisa as reportagens de capa da revista Veja no período compreendido entre 2001 e 2012. Tal recorte se situa neste período porque, durante a coleta dos dados, percebeu-se que houve uma modificação no modo de abordar a questão ambiental na virada do século. Desse modo, o estudo situa-se em evidenciar uma determinada constituição discursiva de Educação Ambiental (EA) na revista. Entende-se que um dispositivo é composto por uma rede de elementos heterogêneos, e, sendo assim, a revista é uma das estratégias que opera com algumas enunciabilidades e visibilidades. Assim, trabalha-se com elementos importantes na constituição do dispositivo da EA. Analisa-se a constituição de enunciados e discursos que se atrelam e dão sustentação ao dispositivo - o enunciado catastrófico do Planeta Terra, por exemplo, o enunciado do antropocentrismo, o discurso de Crise Ambiental e o discurso da Ciência. Trabalha-se com a urgência histórica, mostrando em que residem algumas das condições de aparecimento da Educação Ambiental no século XX. Mapeia-se algumas leis importantes no campo da EA e que normatizam os modos de vida. Opera-se com o enunciável e o visível do dispositivo a partir das reportagens de Veja. Tais discussões encaminham-se no sentido de responder às questões da pesquisa e de sustentar que a Educação Ambiental vem sendo fabricada como um dispositivo na atualidade. O caminho metodológico da pesquisa opera com algumas ferramentas foucaultianas da análise do discurso. A tentativa do trabalho é olhar com desconfiança, hesitar e duvidar das verdades produzidas e proliferadas no material empírico. Talvez tal inquietude seja pela hegemonia que os discursos ambientalistas têm assumido nos últimos anos. Entende-se que estes ditos se pautam em emblemas muito caros aos pesquisadores da EA. Assim, o movimento desta tese é o de colocar-se a pensar de que modo a EA foi se conjecturando e funcionando como um dispositivo potente neste século. Neste sentido, trabalha-se com a formação do enunciado Catastrófico do Planeta Terra, potencializado na revista Veja no século XXI, evidencia-se que o catastrofismo não é uma novidade quando se trata do campo ambiental. Entretanto, na revista ele foi retomado e atualizado e sua atualização reside em indicar os modos corretos com que os sujeitos devem agir e se comportar diante da problemática ambiental. Tal enunciado, porém, não funciona sozinho, ele se atrela a outros enunciados e participa ativamente na construção de discursos. Desse modo, investe-se num estudo sobre a constituição de um discurso de Crise Ambiental e do quanto este se fabrica a partir de enunciados, apoiado em discursos e legitimado com o auxílio de saberes, como o da Estatística. Não basta dizer que se vive uma crise, é preciso mostrar! Para isso, se tem a ciência, os números e as probabilidades. São discursos e enunciados que se combinam para fazer ver e falar sobre o dispositivo da EA, apoiado e sustentado fortemente no dispositivo da sustentabilidade. Nesta trama discursiva há uma subjetivação dos sujeitos, ensinando-os determinadas práticas e atitudes necessárias, pois é necessário que consumam determinados produtos, adquiram determinados hábitos, preocupem-se com ações sustentáveis para viver no Planeta, etc. Assim, o trabalho procura mapear esta rede de elementos que compõe o dispositivo, evidenciando o quão estão interligados.

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Palavras-chave: Educação ambientalFoucault, Michel, 1926-1984DispositivosRevista VejaCatastrofismoCrise ambiental